domingo, 25 de novembro de 2012

Homem é homem, menino é menino, macaco é macaco


Paro muitas vezes para, sozinho, tentar entender certas atitudes que tomo. Confesso que às vezes não é fácil me entender, embora só raramente me apanhe arrependido desta ou daquela atitude: não raro, concordo comigo mesmo, sem me incomodar muito com o que os outros pensam ou deixam de pensar. Isso, é claro, para muitos pode parecer, no mínimo, antipático, mas, tudo bem. Talvez eu não seja normal.

Sou homem e naturalmente tenho medos, angústias, anseios, alegrias, tristezas e outros sentimentos, muito embora não goste de ter medo. Talvez, não sei por que razão, não tenha aprendido ainda a lutar com meus medos, embora eles sejam tantos. A vida – paradoxalmente, penso – nos infunde tantos medos e não nos ensina a lidar com eles.

Refugio-me, na maioria das vezes, no Direito, até por causa da minha formação jurídica. Às vezes, também na Filosofia, na religião e na experiência de vida. Gosto muito da expressão “homem é homem, menino é menino, macaco é macaco”, cunhada pelo Falcão, numa de suas canções. Sou, aliás, admirador do Falcão, do Raul Seixas e dos Mamonas Assassinas. Não vejo mal nisso e pouco se me dá que alguém o veja.

Vejo muita sabedoria nas aparentes irreverências e tolices das canções desses cantores. Talvez, porque a cada dia mais me convenço de que a vida é curta demais, para ser vivida tão seriamente. Não vale a pena! Luto para não ser desonesto, mas, por vezes, já me vi, momentaneamente, envergonhado da minha honestidade. Novidade? Não, pois Rui Barbosa já previa isso. Aliás, eu penso que sou honesto. Talvez nem o seja e, em vez de honesto, seja bobo. Sei lá.

A expressão falconiana, em muitas situações, tem-me feito lembrar e decidir com a firmeza necessária o que tem de ser decidido. A razão é simples. Porque sou homem, não sou macaco e já não sou menino: decido como homem, racionalmente sempre que possível, mas também irracionalmente, às vezes. Por que não? Qual o homem que não erra? Se ele existisse, não teria interesse de o conhecer, porque o reputaria anormal. Isso, todavia, não isenta de severa punição o errar propositadamente. Não, isso é outra coisa.

Hoje, refleti muito, repensei situações e – racionalmente, mas com tristeza, como não poderia deixar de ser – tirei conclusões. Admiro a muitas pessoas, mas já não tenho herói: meu único herói já morreu, era meu pai. E é porque homem é homem, menino é menino, macaco é macaco que já não tenho herói, não confio na Justiça nem no Estado como um todo e tampouco na maioria das pessoas. Claro, sei que muitos também não confiam em mim. É a vida. Ai, que vida!...

Apesar de tudo, sou romântico e, como diz poeticamente Ayres Britto, um “seduzido pela beleza das coisas”. Embora, a desconfiar de quase tudo e quase todos, continuo a contemplar a beleza da praça, do rio, das árvores, da mulher, das crianças e dos animais, bem como a procurar ver sempre a justiça da causa do outro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

“M” de maio, “m” de mãe, “m” de mulher



Um dia escrevi uma crônica que não foi publicada. Não foi, porque o jornal para o qual a escrevera especialmente não saiu, não veio a lume. Publico-a agora, porque com ela homenageio a mulher e, por conseguinte, a despeito de ter sido escrita para o mês de maio, será continuamente atual. Dizia assim (dizia, não, é claro: diz): 

É mês de maio, maio de 2012, para ser preciso, ser exato. Maio é o mês das mães e o mês das noivas, por conseguinte, o mês da mulher, o mês da beleza e do amor. Poderia falar da mulher tão somente como mãe. Ou como noiva. Ou avó, ou filha, ou tia, ou sobrinha. Ou como esposa, ou companheira, ou namorada. Ou apenas como mulher. Tanto faz, de qualquer forma, daria até para escrever um lindo e extenso livro. Poderia ainda, se quisesse, falar da mulher sob o ponto de vista antropológico, biológico, bíblico, jurídico, filosófico. E, fosse qual fosse a escolha, seria algo maravilhoso, gratificante. E daria para escrever um livro, um tratado. Talvez um dia – um dia muito feliz, para ser mais exato – ainda o faça. Talvez. 

Puxa vida, gostaria de escrever algo bonito, profundo, interessante. Sei lá, eu queria fazê-lo (queria, não: quero), porque a mulher, sob qualquer aspecto, o merece. Sei, todavia, que tudo que escrever será inexpressivo; até sem graça, talvez. Logo, a tarefa que me imponho é gratificante, mas, ao mesmo tempo, inglória. Queria expressar o que sinto (aliás, queria, não: quero), mas eu não sei, ou não consigo. Ou não quero. Sim, é isso, não quero. Já não quero dizer coisa alguma. Pronto. Não quero: calar-me-ei. Sim, farei como Camões: “Calar-me-ei somente, / que meu mal nem ouvir se me consente.” 

Pensando melhor, não é bem assim. Não quero me calar. Quero escrever, falar, dizer. Mas falar o quê? Dizer o quê? Escrever o quê? Sei lá!... Há tantas coisas, tantos aspectos da mulher que poderiam ser abordados, discorridos, dissertados. Penso difícil – quase propositadamente o faço. E não quero (mas não quero mesmo) discorrer, dissertar sobre coisa alguma, aspecto algum. Quero tão somente provocar. Sim, provocar os sentimentos de quem me lê, sua reflexão, sua ira, ou compaixão, ou alegria. Ah, sei lá o quê! Pense, reflita, medite. A mulher o merece. 

Eu, já há algum tempo, não levo a vida tão a sério. Fazer isso para que, se isso não me tem adiantado quase nada? Aliás, não é que não leve a vida a sério. Eu levo. No entanto, já desacredito de muitas coisas, já não confio em muitas pessoas e menos ainda em muitas e muitas instituições. Às vezes – quase sempre, aliás – é cansativo viver seriamente, sisudamente, crédula e honestamente. É empírico isso, conquanto aparentemente nada tenha que ver com as mães e as noivas, enfim, com a mulher. Mas tem, tem sim. Acredito, piamente, no amor de mãe. O amor de noiva é doce, indescritível; o amor de mãe, além de indescritível, é, sobre a terra, o mais puro e mais sublime. 

Ah!... Amo profundamente a minha mulher, Professora Câmelha Pereira dos Santos Souza, mãe do meu Daniel e do meu Samuel. Sem ela, eu seria tão somente uma pobre metade a vagar por aí tristemente, desoladamente, sem rumo e sem sentido. Acredito também que ela me ama, seus atos e atitudes do dia a dia involuntariamente me fazem prova disso. Devo também uma dívida impagável à mulher com quem convivi em união estável anos antes do meu casamento, dona Maria José Brito Correia, mãe do meu Douglas.