segunda-feira, 14 de maio de 2012

Xinguara: 30 anos de emancipação


Conquanto pareça ter sido ontem, já se passaram trinta anos e eu não poderia deixar passar em branco, sem escrever algo sobre 13 de maio de 1982, que, diferentemente de hoje, 13 de maio de 2012, não caiu no domingo. Foi, com efeito, um dia útil, porque nele o governador sancionou a lei de emancipação político-administrativa de Xinguara, como também dos distritos de Redenção e Rio Maria, a Lei n.º 5.028. Uma canetada do governador e três novos municípios, desmembrados de Conceição do Araguaia, tal qual decidira o povo em plebiscito e aprovara a Assembleia Legislativa. 

Há, bem o sabemos, um 13 de maio famoso na História do Brasil, o de 1888. A data da lei é a mesma da abolição da escravatura. Ironia? Homenagem? Mera coincidência? Sei lá! Tenho para mim que foi um ato irônico do governador do Estado, coronel Alacid da Silva Nunes. Assinar a emancipação político-administrativa desses distritos, criando os respectivos municípios, no dia da abolição da escravatura foi ironia do governador do Estado, que rompera politicamente com o presidente da República, general João Batista de Oliveira Figueiredo, e com o prefeito de Conceição do Araguaia, Dr. Giovanni Correia Queiroz. 

Figueiredo, Alacid e Giovanni pertenciam ao mesmo partido político – da direita, é claro, nem era necessário dizer –, mas Alacid resolvera romper com Figueiredo, mudando de partido, o que, para a época, era como cometer crime de lesa-pátria. Giovanni, é claro, permaneceu no partido do presidente da República, somente bem depois foi que mudou. Lembro-me de que, à época, as relações entre o governador e o prefeito ficaram tensas. Por isso, embora Giovanni, como prefeito, fosse favorável à emancipação, Alacid aproveitara para xingá-lo, simbólica e sutilmente que fosse, de escravagista. Isso tudo, porém, é mera suposição minha.  

Assisti a tudo isso como servidor público municipal de Conceição do Araguaia, lotado em Xinguara. Foram, para todos nós, tempos dourados de muita esperança. A despeito de não me envolver com política e me dedicar apenas às atividades funcionais, tinha muitas esperanças, até porque, embora já contasse os 22 anos, eu mais parecia um adolescente, física e mentalmente. Ansiávamos todos por mudanças tidas como certas, não só pela emancipação político-administrativa da cidade, mas principalmente pelos sinais do fim da ditadura, já agonizante. 

Lembra-me que bem jovens também eram o reverendo Erisval Moura de Sousa, agente distrital de Xinguara, e sua linda mulher, a professora Luz Marina. Erisval – que, além de pastor da Igreja Cristã Evangélica, também era venerável mestre da Loja Maçônica União e Fraternidade Xinguarense – foi quem me levou para trabalhar na Agência Distrital de Xinguara, na subprefeitura, como o povo dizia. A ele, pois, minha profunda gratidão, hoje e sempre.  

Hoje é aniversário de Xinguara, que completa 30 anos de emancipação, daí as minhas lembranças. Sou assumidamente saudosista e me lembro, com saudade, de quase tudo: lugares, pessoas, instituições e acontecimentos. Decidi citar apenas Erisval e Luz Marina, mas são muitas as pessoas de quem agora me lembro e tenho saudade, muita saudade. Puxa vida, quanto tempo! Parece que foi ontem, mas não foi. O tempo passou, e muito. Várias pessoas, também! Impossível não sentir o nó na garganta.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O Padroeiro de Xinguara

Dia 1.º de maio é o dia do padroeiro de Xinguara, definido por lei municipal, segundo as regras e princípios do ordenamento jurídico pátrio. É que, no Brasil, os feriados municipais são definidos por lei dos respectivos municípios, os feriados estaduais, por lei dos respectivos estados e, por fim, os feriados nacionais, por lei da União, lei federal.
Isso é óbvio, creio que quase todo o mundo sabe. Há, contudo, particularidades importantes em cada história. Aliás, isso também é óbvio, mas, se nos for vedado dizer ou escrever o óbvio, muita coisa interessante deixará de ser dita ou escrita. Nada tenho, por conseguinte, contra o dizer ou escrever o óbvio quando for necessário, o que vale também para a cacofonia, assunto de que deverei tratar em outra crônica.
No caso de Xinguara, por exemplo, aconteceu algo que muitos não sabem e vou contar agora, haja vista que hoje é 1.º de maio de 2012 e eu, a despeito de morar em Marabá, não me esqueço de Xinguara, onde morei de dezembro de 1980 a novembro de 1996, como já registrei em outras crônicas. A repetição é didática, não obstante às vezes cansativa.
Pois bem. Na primeira legislatura da Câmara Municipal de Xinguara, ainda em 1983, salvo engano, o vereador Geraldo Gonçalves Peres apresentou um projeto de lei dos feriados municipais xinguarenses, que foi aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito, transformando-se em lei. E lei é lei. Como sabemos, “dura lex, sed lex” (a lei é dura, mas é lei), já dizia os romanos. A lei tem que ser cumprida, embora, como também o sabemos, isso nem sempre aconteça.
Lá vai a coisa. A Igreja Católica decidira que o padroeiro de Xinguara seria São José e, por isso, o Geraldo Peres, ao fazer o projeto de lei, escreveu que o dia do padroeiro era 19 de março. Daí surgiu o impasse. Durante alguns anos, houve um conflito de datas: 19 de março, a data prevista na lei, e 1.º de maio, a data comemorada pela Igreja Católica. Ninguém sabia, ao que me parece, como resolver o problema. Comércio, indústria e serviços eram compelidos a guardar um dia e a Igreja guardava outro.
Pensei comigo mesmo (e até o disse, com uma pontinha de ironia, ao prefeito, a colegas de Prefeitura à época e a vereador): “Ora, o santo é da Igreja. Então, em vez de ficar discutindo, perguntemos à Igreja qual é o dia dele. Em matéria de santo, quem tem autoridade é a Igreja.” E mandei brasa. Enviamos um ofício ao padre, expondo o problema e perguntando a ele qual, afinal, era o dia.
O padre, de cujo nome já não me lembro, respondeu-me, também por escrito, dizendo que, de fato, 19 de março é dia de São José, mas como pai de Jesus, ao passo que 1.º de maio é dia de São José, como carpinteiro, e a Igreja, optando pela causa operária, escolheu São José para padroeiro de Xinguara, foi como carpinteiro, não como pai de Jesus.
Redigi e datilografei um projeto de lei, alterando a redação da lei dos feriados municipais de Xinguara, que o prefeito Itamar Rodrigues Mendonça assinou. Enviado à Câmara, foi aprovado e o prefeito o sancionou, transformando-o em lei. Pronto, estava resolvida questão. Já contei muitas vezes essa história aqui Marabá, quando preciso ilustrar palestra ou conversa.
É isto. Se a pessoa tem um problema médico, deve procurar o médico, não procurar o engenheiro, pois não dará certo jamais. Se for um problema de Engenharia, chamar o engenheiro, não chamar o contador nem o advogado, porque não dará certo. E assim por diante. Quem tem autoridade em matéria de santo é a Igreja, não é o legislador. Simples assim. Mas há quem goste de pensar que é diferente. Aí complica. E complica sem necessidade.