segunda-feira, 30 de abril de 2012

Crimes e atrocidades em nome da religião


Crimes, preconceito, intolerância e atrocidades de toda a ordem têm sido perpetrados em nome da religião, no correr das eras. Eu tenho medo, muito medo, dos donos da verdade. É terrível isso! 

Ninguém pense, contudo, que sou ou estou me tornando antirreligioso. Não, eu só me dou o direito de pensar, de raciocinar e de não aceitar calado tudo aquilo de que discordo e que muitas vezes, em nome da religião e de outras tantas verdades, querem impor a tudo e a todos.

Não, eu não aceito. Por formação acadêmica, por convicções religiosas e filosóficas e pelas minhas idiossincrasias, pela índole pessoal mesma. Usando um pouco (talvez muito) de gíria: sou advogado, sou maçom e sou vacinado. Não gosto de gente debochada, claro, mas não estou nem aí para hereges, preconceituosos, intolerantes e coisas que o valham.

Como diz, com muita sabedoria, Marilena Chaui: "A verdade é, ao mesmo tempo, frágil e poderosa. Frágil porque os poderes estabelecidos podem destruí-la, assim como as mudanças teóricas podem substituí-la por outra. Poderosa, porque a exigência do verdadeiro é o que dá sentido à existência humana."

Concordo com Marilena Chaui. Mas, se fosse o caso, poderia discordar. Sim, por que não? Eu sou assim, não sei os outros crentes. Só para encerrar, mas sem nexo algum talvez, faço minhas as palavras de Fagundes Varela, no "Cântico do Calvário", vazadas neste verso: "Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!"

domingo, 29 de abril de 2012

Domingo, mais que os demais, dia de sossego


Bom dia, Xinguara! Bom dia, Marabá! Bom dia, meus amigos do Facebook! Bom dia, leitores dos meus blogues! A todos um domingo cheio de paz, harmonia, alegrias, realizações e felicidade. Domingo é dia de descanso para a maioria da população brasileira, que, por ser cristã, o tem como dia de guarda, como o dia do Senhor. Aliás, como sabemos, "domingo" vem do latim, com essa significação.

O primeiro passo para que consigamos tudo isso é cada um ter em mente que seu direito termina onde começa o direito alheio. Não se esquecer, por exemplo, de que o seu maldito aparelho de som fica em sua casa, mas o som produzido, como é um fenômeno físico, se propaga no ar e vai perturbar o sossego alheio em um raio de dezenas e até centenas de metros de distância. O som, o maldito som em alto volume, não fica dentro da casa do infeliz infrator que o produz.

Vamos viver sossegadamente e permitir que o outro, o semelhante, viva! A vida é muito curta para ser estragada com sofrimentos desnecessários. Não perturbe a ninguém, não prejudique os outros, não procure complicações para sua vida nem para a vida dos outros! Viva a sua vida. Faça o bem a todos, na medida de suas possibilidades. Se não puder fazer o bem, então, pelo menos, não faça o mal.

Não procure complicações, porque quem procura encontra. Quem planta vento colhe tempestade. Isso é bíblico. A cada ação corresponde uma reação, igual e contrária. Isso é científico. Lembre-se de que a lei penal assegura a legítima defesa, o que autoriza alguém a matar, se matar for o resultado da ação daquele que age, usando moderadamente dos meios necessários, para repelir agressão injusta – atual ou iminente – a direito próprio ou alheio.

Aproveite bem seu dia de hoje, não perca essa oportunidade! Empregando o conselho do epicurista Horácio, que foi dado em outro contexto, mas também serve para este: "Carpe diem."

terça-feira, 17 de abril de 2012

O rio do tempo e o oceano das eras

É impossível segurar o tempo: ele se vai, queiramos ou não. O tempo passa inexoravelmente e nós também, querendo ou não. Ontem eu era menino, hoje sou quase idoso. Morremos todos, indiferentemente, tanto os preocupados quantos os despreocupados. Penso que bom mesmo é gozar a vida, porque ela um dia, que pode estar próximo ou distante, terminará.  
Diz a ciência – todos nós o sabemos – que os preocupados ou ansiosos morrem mais depressa. Não sei se é verdade, não quero discutir isso nem posso, academicamente, fazê-lo, porque não sou médico nem biólogo nem psicólogo nem qualquer outra autoridade no assunto. Presumo que esses profissionais o sejam. A coisa, contudo, parece muito lógica. Basta, portanto, raciocinar um pouco e logo se chega a essa conclusão. 
A Bíblia – que não é livro de ciência e, por conseguinte, seus ensinamentos são aceitos pela fé ou rejeitados pela ausência dela – tem recomendações contundentes sobre a matéria. “Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso de sua vida?” (Mt 6.27). E, logo mais à frente: “Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mt 6.34). Há, claro, outras versões, que dizem a mesma coisa com outras palavras. 
Isso, todavia, é matéria de fé – repito. E eu também não quero discutir a fé. De jeito nenhum. Não quero, não me interessa. Há muito, cheguei à conclusão de que não devo fazê-lo. As pessoas, não raro, são extremamente arrogantes em matéria de fé, crença ou descrença e eu ando enojado de arrogantes. Eu tenho medo, muito medo, dos donos da verdade. Até porque tenho convicção – e esta, asseguro, absoluta – de que a verdade não tem dono. 
Não quero aqui discutir coisa alguma. Escrevo tão somente por escrever, embora acredite no que escrevo. Quem quiser que tire suas conclusões. Apenas me lembrei do rio do tempo e do oceano das eras, expressões que designam o passado remoto. Uma, a primeira, aprendi de Rubem Alves, lendo uma de suas belas crônicas; a outra, do autor de um livro de Introdução à Ciência do Direito, de cujo nome, infelizmente, no momento não me lembro. 
Tenho apego ao passado e carinho especial por ele. E acredito na teoria do meu amigo Liberato Diniz Barroso, lá de Belém do Pará. Para quem não lembra, resgato aqui o que ele deixou poeticamente registrado, dia 6 de abril de 2012, em comentário do Facebook: “Tenho uma teoria meio maluca que cultivo desde os tempos etílicos: o tempo que passou está guardado em algum lugar, que poucos descobriram. E que pode, a qualquer momento, voltar.”  
É verdade! Ih, verdade!?... Ah!... Dizem, academicamente, que há verdades socialmente constituídas e verdades socialmente construídas, que dizem respeito, respectivamente, aos fatos que existem apenas em virtude de nossas crenças e aos que existem independentemente delas. Isso leva a outra bela e profunda discussão da gostosa seara da Filosofia, a das concepções de verdade. Isso, contudo, é matéria para discussão em outro foro, porque não sou filósofo e, demais disso, nem todo leitor gosta dessas discussões. Mas, quem disse que eu quero discutir alguma coisa?...

domingo, 15 de abril de 2012

Tarde da Crônica na Escola do Sesi



Literatura é a arte de transpor a vida real para a ficção, mas a crônica é literatura de boa qualidade, sem ser ficção. Mais que feliz, portanto, foi a iniciativa pedagógica da Escola “Mário Thomazelli”, do Serviço Social da Indústria (Sesi) em Marabá, de trabalhar esse gênero textual com as turmas da quarta série do ensino fundamental. São duas turmas envolvidas no projeto pedagógico, a da Professora Eliana Neves e a do Professor Wynklyns Lima. E delas sairão bons cronistas, que, dentro em breve, estarão escrevendo em blogues, jornais e revistas. Sem exagero e com inerrante convicção o afirmo.

 O leitor, por certo, está a indagar por que escrevo com essa convicção. A resposta é simples. Escrevo isso porque tive a felicidade de dar uma palestra sobre crônica, para as duas turmas, na presença de ambos os professores, dia 12 de abril de 2012, quinta-feira passada, à tarde, atendendo ao honroso convite que me foi feito pelo Professor Wynklyns, meu amigo desde os tempos da Universidade Federal do Pará, onde estudei Direito e ele estudou Pedagogia. Aliás, da mesma época e nas mesmas circunstâncias, também conheço a diretora da escola, Professora Claudiana Guido. 

Fiquei felicíssimo, porque saí de lá comovido e encantado com a atenção e amabilidade das crianças. A palestra foi dada como parte das atividades do projeto que,  oficialmente, está sendo desenvolvido pela instituição. Assim, além dos dois professores, presentes do começo ao fim, também nos prestigiaram, assistindo a parte da palestra, as Professoras Claudiana Guido, diretora, e Saionara Razera, secretária. Mas eu me apaixonei mesmo foi pelo carinho e atenção das crianças, que, durante todo o tempo, demonstraram interesse e entusiasmo no mais profundo sentido dessas palavras.

Foi, para mim, muito gratificante. Ver ali o reconhecimento e a aceitação da minha humilde obra literária como cronista trouxe-me o incentivo necessário para, se vida e saúde tiver, continuar cronicando por mais décadas e décadas. A alegria e o entusiasmo com que, por exemplo, a Professora Saionara falou da minha crônica “A boca denuncia o coração”, escrita para a revista Foco Carajás, lida por ela recentemente em um consultório médico, me deixou profundamente sensibilizado e agradecido. De igual modo, a leitura pelo Professor Wynklyns da minha crônica “O tempo e a coisa”, do livro Crônicas do Cotidiano, publicado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, do Rio de Janeiro, em agosto de 2011.

Após a palestra, tive a felicidade de conhecer, na sala de aulas do Professor Wynklyns, as crônicas escritas pelos alunos à guisa de atividades, e, como não poderia deixar de ser, fiquei deveras entusiasmado pela produção daquelas crianças. Não tenho dúvida – repito – de que dali sairão bons cronistas. Os trabalhos produzidos por eles demonstram, de forma inequívoca, a existência de capacidades e vocações para a arte da palavra escrita. Basta tão somente que sejam apoiadas e, por conseguinte, desenvolvidas. 

Registro em crônica, portanto, meu agradecimento especial e sinceros parabéns a docentes e discentes da Escola “Mário Thomazelli” envolvidos na iniciativa. Agradecimento, pela oportunidade que me deram de conhecer e poder contribuir, um pouquinho só que tenha sido, para a formação de tão lindas, importantes e amáveis criaturinhas, que ficaram para sempre no meu coração. Parabéns, pela certeza inabalável de que a instituição está no caminho certo e faz educação e ensino de boa qualidade. Ah, como teria sido bom se tivesse eu tido essa oportunidade – que não tive – na minha quarta série do ensino fundamental!

Ah, preciso encerrar e, por isso, encerro!  Vou fazê-lo, contudo, citando o que escreveu Joaquim Ferreira dos Santos, na introdução do livro As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, que diz: “A crônica não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz literatura também. Textos feitos para o momento e que, pela qualidade, vão ficar para sempre.”  

sábado, 7 de abril de 2012

Esperança malograda

Era 25 de junho de 1996. Recém-aprovado no vestibular para Direito da Universidade Federal do Pará – campus de Marabá, eu aguardava na Prefeitura Municipal de Xinguara o início das aulas, quando mudaria residência para Marabá, a fim de estudar.
 
Já planejara e combinara tudo. Com os professores Nilsa Brito Ribeiro e Carlos Henrique Lopes de Souza, coordenadora e vice-coordenador do campus de Marabá, respectivamente, e com o prefeito de Xinguara, Elviro Faria Arantes. Seríamos – eu e a Câmelha, minha mulher – cedidos à União, com ônus para o Município, para trabalhar na Universidade, em Marabá.
 
Era assessor técnico do Gabinete do Prefeito e acumulava o cargo de chefe de Gabinete, optando pela remuneração deste, que era maior. A Câmelha, servidora concursada, era minha secretária. Éramos recém-casados. Casáramos, na amada Igreja Presbiteriana do Brasil, em 16 de dezembro de 1995.
 
Por volta das 10 horas, após trabalhar desde as 7 na sala fechada de ar condicionado, saio – como faço todos os dias – até o átrio do prédio, onde há uma linda e acolhedora mangueira, que vi crescer ao longo dos anos. Vou tomar fôlego contemplando o jardim, como costumo dizer à secretária, minha mulher. Nascido e criado na roça, em meio às árvores da floresta, onde vivi até os 20 anos, amo contemplar a Natureza, que tão bem se expressa na beleza das árvores, dos animais, da amplidão dos céus.

Saindo, vejo na recepção – onde me demoro um pouco para conversar com a agente de portaria (a Jeonildes Dourado de Sousa) – um exemplar do jornal Correio do Tocantins, no qual leio o anúncio das inscrições para cargos de atividade-meio e atividade-fim do Ministério Público Federal (Procuradoria da República), com vagas para várias localidades do país, incluindo Marabá.

O encerramento das inscrições – diz o jornal – dar-se-á no dia seguinte, 26 de junho. Ato contínuo, telefono para Brasília e sou informado acerca dos cargos. Por não poder ler o edital, escolho o cargo pelo nome e, por conseguinte, opto pelo cargo de assistente administrativo. A funcionária que me atende pondera que há apenas uma vaga para esse cargo. Confiante, digo-lhe que não há problema, pois necessito apenas de uma vaga, ao que ela responde com uma risada.

Encerrado o expediente – trabalhávamos das 7 às 13 horas –, compro passagem e viajo, à noite, para Marabá, a fim de inscrever-me. Chegando a Marabá, faço a inscrição às pressas, sem tempo de ler o edital para me informar sobre os vencimentos e as atribuições do cargo. Não faz mal – pensava. Afinal, assistente administrativo tem, sem dúvida, atribuições administrativas, e os vencimentos do Ministério Público Federal não devem ser ruins. Para que me preocupar com edital, já que nem tempo teria para a sua leitura?

Grande decepção me esperava!

Chegada a data da prova, sou o primeiro a chegar ao portão da Universidade Federal do Pará – campus de Marabá, até porque estou sem relógio. Concurso realizado pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE), da Universidade de Brasília. Prova dificílima. Meu segundo vestibular, sem dúvida.

Os dias e meses seguintes foram de expectativa. Considerava-me prejudicado porque, como fizera a prova sem relógio, precipitara-me pensando que o tempo se esgotara e, por isso – apressado –, entregara a prova antes do tempo. Mesmo assim, tinha certa confiança, pois achava muito difícil alguém ter-se saído melhor do que eu naquela prova.

Quando sai o resultado, a alegria: fora aprovado em primeiro lugar!
 
Março de 1997. Dia 25. Sai a minha convocação no Diário Oficial da União. Devo apresentar-me dentro de trinta dias, portando a documentação exigida, para tomar posse e daí, até trinta dias, entrar no exercício do cargo.

Agora a desilusão!

A descrição das atribuições do cargo, feita pelas Leis n.os 8.428, de 28 de maio de 1992, e 8.628, de 19 de fevereiro de 1993, e repetida – como não poderia deixar de ser – no edital do concurso (que não lera), diz com todas as letras: “atividades de caráter profissional de menor grau de complexidade e responsabilidade, envolvendo tarefas relacionadas com serviços de portaria, telefonia, reprografia, limpeza, conservação, copa e serviços diversos”.

Estupefação. Decepção no mais alto sentido da palavra. Eu, simplesmente, não acreditava no que via a minha frente... Minha esperança fora malograda!... Eu, que deixara de fazer as provas da Justiça Federal meses antes, em 1996, exatamente porque ficara em primeiro lugar no concurso do Ministério Público Federal, agora, não assumiria o cargo! Não sabia fazer serviços de copa, mas, ainda que soubera, não assumiria da mesma sorte, por uma questão de coerência. Estudara Contabilidade e agora estudava Direito. Não estudara culinária ou coisa semelhante.

Jamais vira coisa igual. Como entender aquilo? Entender-se-ia se ao menos o nome do cargo fosse agente de serviços gerais ou auxiliar operacional. Nunca algo que terminasse com a palavra “administrativo”.

Parecia brincadeira de mau gosto. Descrição semelhante vira somente na literatura. A crônica Pequenos anúncios, de Paulo Mendes Campos: “Precisa-se de empregada competente e amante da limpeza para cozinhar, lavar, copeirar, passar, engomar, cuidar das crianças, servir de enfermeira a senhor idoso paralítico, regar o jardim, fazer faxina diária e demais serviços leves.”

É mole, ou quer mais?       

Desisti. Entrou o Josias Pereira Falcão, meu colega do curso de Direito, que fora classificado em segundo lugar. Fiquei triste, porque estava passando por dificuldades financeiras. Não estava recebendo em dia da Prefeitura Municipal de Xinguara e a minha mulher estava grávida, mas desisti.

Graças a Deus, meses depois – agosto de 1997, para ser mais preciso – era novamente classificado em primeiro lugar em outro concurso público, o de técnico legislativo da Câmara Municipal de Marabá, cargo no qual seria empossado no dia 1.º de abril de 1998. Mais uma vez um dos meus colegas do curso de Direito (agora a Bethânia Coutinho) fora classificado em segundo lugar para o mesmo cargo. Para esse havia cinco vagas, não obstante o tempo viesse a mostrar depois que somente o primeiro classificado seria chamado.

Outra coisa. Com essa bênção viria uma provação. Estudava à tarde, das 14 às 18 horas, e, por isso, teria de interromper o curso por exatamente um ano, como de fato interrompi. A Câmara – atentando contra disposição expressa, embora mal redigida, da Lei Orgânica do Município –, negar-me-ia, como realmente negou, o direito de continuar o curso à tarde.

Mas essa já é outra história. Que também mostra como é a vida. E como são os homens.