terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Tempos malucos, mas bons


Morei em Xinguara, de 20 de dezembro de 1980 a 11 de novembro de 1996. Tempos bons, de que tenho muita saudade, a despeito de terem sido tempos de sofrimento também. Tempos malucos da minha mocidade, que a cada dia ficam mais distantes e não voltarão jamais. Sim, tempos malucos, de muitos erros e acertos, mas tempos bons. É como diz o meu amigo Vieira, na sua profunda filosofia de botequim: “A gente era triste, mas era feliz.”

Dentre os meus amigos da época, merece realce Liberato Diniz Barroso, até hoje titular do conceituadíssimo escritório contábil LDB Contabilidade e Serviços, de Belém, então contador da Prefeitura Municipal de Xinguara. Ele, por brincadeira, me chamava e ainda me chama de Valdinar Mendonça, como eu também o chamo de Liberato Mendonça. Brincadeira nossa, por causa do amigo comum Itamar Rodrigues Mendonça, primeiro prefeito de Xinguara.

Pois bem. Vejo que mais gente, além de mim, sente saudade daqueles tempos. Que bom! Hoje, 21 de fevereiro de 2012, fuçando meu perfil no Fabebook, encontrei esta mensagem do Liberato, postada dia 22 de fevereiro de 2011, ou seja, um ano atrás:

“Valdinar Mendonça:

Todas as vezes que eu vejo a tua foto, me recordo daqueles tempos (hoje malucos) de Xinguara. Tempos de irresponsabilidade social onde a palavra era frequentemente molhada por baco. Tempo bom, porém deve ficar no lugar dele, no passado. Recebi meu diploma de especialista em ciências forenses e coloco meus conhecimentos à tua disposição e daqueles que achares que possam vir a se interessar. Um grande abraço.

Liberato Barroso”

Puxa vida, viajei no tempo e vivi cada momento! Que saudade, que lembranças! Liberato lembra aí que “a palavra era frequentemente molhada por baco”. É verdade, Baco! Era o tempo da cachaça. Mas não somente da cachaça, ainda bem. Incrível, quando não estava trabalhando nem bebendo, estava lendo. Como lembrou recentemente, em comentário do Facebook, o Astalayr Martins, outro amigo de então, eu sempre andava com um bom livro na mão ou debaixo do braço. Foi isso que me livrou da sarjeta. O apego quase exagerado aos livros e à leitura foi o instrumento terreno de Deus para me salvar! Eu lia, lia muito e era competente em tudo que fazia. Isso fez a diferença.

O tempo passou inexoravelmente, mas as boas amizades ficaram e continuam. Liberato Diniz Barroso, Nelson Luiz Pereira Cunha, Ney José Pereira Cunha, Roberto Wagner de Jesus do Rosário, Paulo Antônio Dutra, Luiz Sérgio Dutra, Itamar Rodrigues Mendonça, Astalayr Martins, João Carlos Rodrigues e tantos outros, ainda que distantes fisicamente, são exemplos das amizades daquela época. Eu os guardarei na mente e no coração, sempre.

Caramba! “A gente era triste, mas era feliz.” Ganhei o dia, relendo a mensagem do Liberato e escrevendo esta crônica. Prometo, por isso, a mim mesmo que ela haverá de ser perenizada em livro. Grande Vieira! Grande Liberato Mendonça!

Sem título e, talvez, sem sentido


“Marabá, hoje, 20 de fevereiro de 2012, à tarde, estava extremamente agradável: tempo nublado, brisa muito gostosa, sem chuva. Amei passear a pé pela VP-8 até chegar ao terminal rodoviário, na Folha 32, Nova Marabá, após alguns minutos na livraria da Big Ben. É difícil um dia de clima gostoso como o da tarde de hoje. Amei!”, escrevi e publiquei no Facebook, a coqueluche do momento.

A moda agora é esta (o modo também?): registrar localização, sentimentos e que tais no Facebook, no Twitter, e assim por diante. Isso é muito bom, embora eu ainda não tivesse (na realidade, ainda não tenha mesmo) pegado o hábito. É bom, sim. Serve como meio de comunicação, principalmente, mas não somente isso. Esses registros poderão, com efeito, ter mil e uma utilidades, inclusivamente em investigações criminais.

O problema, pelos menos eu vejo assim, é que muitas pessoas, talvez milhões hoje (não digo muitíssimas, porque há controvérsias quanto a esse superlativo de muito) não sabem ou não têm o que escrever, quiçá ainda a junção das duas coisas, e por isso escrevem baboseiras, tolices, coisas sem sentido e por aí afora. Talvez o que estou fazendo agora, claro. Penso que não, sei que muitos também pensarão, mas muitos outros (a maioria, quem sabe?) pensarão que sim, estou escrevendo besteiras. Fazer o quê? A vida e as coisas são assim.

A ciência e a tecnologia, assustadoramente, estão sempre a serviço e a desserviço do ser humano, depende do uso ou emprego que se lhes dê. Como já se escreveu – com muita sabedoria, penso eu –  “o mesmo cubo pode servir de pretexto para efeitos de sombra e de luz”. Quem quiser que escolha o serviço ou o desserviço e, evidentemente, arque com o ônus ou o bônus, assuma as consequências das suas decisões. A vida é bela é por isso.

Fecho a cronica, a que, propositadamente e exatamente por tudo isso, intitulei “Sem Título e, Talvez, Sem Sentido”. E a fecho com o comentário que postei, faz poucos minutos, no Facebook: “Lendo, desde o início da folga de carnaval, ‘Teogonia’ e ‘Trabalhos e Dias’, de Hesíodo, tradução e comentários de Sueli Maria Regino. Muito bom ler os clássicos gregos, sempre gostei. Ontem, à noite, comecei a ler também ‘O Quinto Evangelho: A Mensagem do Cristo’, o evangelho de Tomé, traduação e comentários de Huberto Rohden. Muito bom também. Depende do gosto, claro.”

Aliás, não, não. Vou fechar com uma passagem do Evangelho de Tomé, outro nome da obra O Quinto Evangelho: A Mensagem do Cristo: “Miserável o corpo que depende de outro corpo, e miserável a alma que depende desses dois corpos” (Evangelho de Tomé, 87). Eu, hein! Que será que ele quis dizer com isso? Miseráveis são todos os humanos, esperitualmente falando? Não digo que sim nem que não. O tradutor explica nos seus comentários.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As mentiras e aleivosias do criminoso


Está no BOL Notícias, leio e me arrepio de raiva: "Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei. Foi tudo muito rápido. Pensei que ela fosse pegar minha arma", essa afirmação absurda, covarde e mentirosa é de Lindemberg Alves, ao depor no Tribunal do Júri, sob a acusação de haver cometido vários crimes, em outubro de 2008, dentre eles o homicídio contra a da vítima Eloá Pimentel, que teve a vida absurda e covardemente ceifada aos 15 anos de idade. "Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro", diz o infeliz, mais à frente, referindo-se à outra adolescente, vítima de tentativa de homicídio.

Puxa vida! Sou advogado e, embora milite muito pouco nessa área, tenho simpatia pela advocacia criminal, mas não consigo evitar sentimentos agressivos dos mais primitivos, ao ler tais declarações. O que mais me afronta e me aborrece profundamente em todos ou quase todos os processos criminais de homicídio são as mentiras do criminoso assacadas contra ou, no mínimo, em relação à vítima. O criminoso, em nome de sua defesa, não raro, vilipendia e atenta contra a memória da vítima ao depor nas várias fases processuais. É a covardia da covardia, é a imoralidade da imoralidade: o homicida nunca ou quase nunca assume suas responsabilidades, seu instinto criminoso, sua covardia e ainda vilipendia a memória da vítima.

Sou contra também – sempre fui – as firulas, trejeitos e salamaleques da defesa, quando, na busca de absolvição a qualquer custo, geralmente com mentiras e outros artifícios igualmente condenáveis, faz de tudo para transformar monstro em santo ou outro ser inofensivo e benfazejo. Mas o pior não é isso, porque forçoso é reconhecer que, ante o princípio da ampla defesa, o acusado pode mentir e seu defensor deve fazer de tudo ao seu alcance para defendê-lo. O pior, o mais acintoso e mais cruel são as decisões dos jurados e julgadores togados que, embevecidos e insensíveis à dor da vítima, da sua família e da sociedade, dão crédito a tais aleivosias e absolvem a quem deveriam condenar.

Minha ojeriza a tais procedimentos é antiga e remonta à vida de antes de ser advogado. Como cidadão, como homem e, acima de tudo, como ser humano, sempre me senti afrontado com coisas como essa feita por Lindemberg. Registro, aliás, que escrevo em jornais desde setembro de 1993, nos saudosos tempos de Xinguara, e meu primeiro artigo de jornal, intitulado “Tribunal do júri: quase sempre um tribunal de injustiças”, foi sobre o assunto.

Os julgadores, leigos e togados, não devem jamais ceder às mentiras do criminoso e ao elogio fácil da defesa. Se o Brasil fosse o país sério que não é, Lindemberg Alves seria condenado à morte e executado. Ninguém tenha dúvida disso. Espero, portanto, que ele, ao menos, seja condenado a uns cem anos de reclusão e cumpra a pena. Até porque o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a trinta anos, como diz o art. 75 do Código Penal. Ninguém se esqueça disso.  

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sonho literário


Já estão escritos meus livros de crônicas De pé por causa da palavra e A despedida do palacete, que pretendo publicar logo. Cada um terá 50 e poucas crônicas e um pouco mais do que 120 páginas. Meu projeto é publicar um deles ainda este ano e o outro em 2013, talvez pela Scortecci Editora, de São Paulo. Também tenho em mente publicar um livro só de crônicas escritas para a revista “Foco Carajás”, da qual sou colunista por especial benevolência do editor e amigo Laércio Ribeiro, e outro com algumas que, publicadas nos meus blogues, não saíram nos jornais.

De pé por causa da palavra deverá sair primeiro, ainda em 2012. O prefácio está sendo escrito por Fabricio Possebon e as orelhas, por Patrick Roberto Carvalho. Fabricio, professor da Universidade Federal da Paraíba, tem bacharelado em Letras, mestrado em Letras e doutorado em Letras; o bacharelado e o mestrado cursados na Universidade de São Paulo, o doutorado, na Universidade Federal da Paraíba. Patrick Roberto, jornalista graduado pela Universidade Católica de Brasília, é diretor de redação do Correio do Tocantins.

A despedida do palacete quero lançar em 2013. O prefácio será de Gutemberg Armando Diniz Guerra e as orelhas, de Innocêncio de Jesus Viégas. Gutemberg, professor da Universidade Federal do Pará, além de cronista, é agrônomo e tem mestrado, doutorado e pós-doutorado. Cursou o mestrado pela Universidade Federal do Pará, o doutorado pela École des Hautes Études em Sciences Sociales, de Paris, e o pós-doutorado pela Columbia University, de Nova Iorque. Innocêncio, economista e teólogo, é cronista e membro da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal.

Tenho, por conseguinte, a convicção de que meus originais de ambos os livros estão mais do que em boas mãos, tanto para o prefaciar quanto para o orelhar – o verbo orelhar, para quem ainda não sabe, existe, tanto com essa quanto com outras acepções ou significados –, de forma que serão bem apresentados ao leitor. Sinceramente, é honra demais para mim!

Conto, por tudo isso, com que tais obras tenham boa aceitação de público. É esperar para conferir. E, se não houver essa boa aceitação, ninguém tenha dúvida, a culpa será tão somente do escritor. Não duvido nem um pouco de que isso aconteça. Ah, coitado! Quem manda escrever baboseiras? Brincadeiras, ironias e modéstia à parte, há, sim, boas crônicas em ambos os livros, claro. Até porque não teria sentido nem razão alguma para que doutores stricto sensu e pessoas outras de tamanha competência perdessem tempo prefaciando e orelhando obras sem valor literário algum.

É isso. Estou animado com meus livros e com muita vontade de vê-los a circular. Que haja público e leitores com a mesma avidez! Se não houver, sinceramente, não estarei nem aí. Fiz a minha parte. O ser humano, homem ou mulher, é do tamanho dos seus sonhos. Eu creio nisso e estou chegando à idade de dar bananas para todo o mundo. Verdade!